quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um rei, um apóstolo, uma pecadora e um não pecador


PARÓQUIA DA SANTA CRUZ
HOMÍLIA
Quaresma, 13 de junho de 2010
Textos Bíblicos:
Primeira Leitura: II Sm 11.16-12, 10,13,15
Segunda Leitura: Gálatas 2.11-21
Evangelho: São Lucas 7.36-50
Título: Um rei, um apóstolo, uma pecadora e um não pecador

O Rei
Davi foi ungido rei de Israel na presença de seus irmãos, não porque era forte, mas servia ao Senhor, conforme as escrituras era um homem segundo o coração de Deus (I Sm 13.14 e At 13.22)
Antes de ser rei derrotou um filisteu gigante, com uma pedra. Quando falaram para Davi o que o filisteu andava dizendo, ele declara: “Quem é esse incircunciso para afrontar o exército do Deus vivo” (I Sm 17.36b) e ainda disse “toda a terra saberá que existe um Deus em Israel. Toda essa multidão saberá que não é com espada e lança que Javé sai vitorioso” (I Sm 17.47).
Depois de algum tempo é feito rei de Israel e tornou-se o maior governante desse reino, andava segundo o coração de Deus, fazendo sua vontade e tinha um espírito arrependido.
Porém um fato manchou a reputação de Davi. Numa tarde ao levantar-se da cama foi passear no terraço do palácio e viu uma moça tomando banho, manda chamá-la e, tem relações com ela, em conseqüência engravida. A partir desse fato o rei arquiteta um plano para livrar a sua cara: Manda chamar o marido Urias, que estava na guerra, para ter relações com sua esposa, ele não o faz, pois seus homens estavam na guerra. Diante da recusa, ordena que o guerreiro fosse colocado na frente de batalha, onde morreu varado por uma flecha. O rei ordena para trazerem Betsabá para o palácio e a toma como esposa.
Nesse ínterim aparece o profeta Natã diante do rei e contou-lhe uma história:
“Havia dois homens um pobre e outro rico. O rico tinha muitas ovelhas e bois, o pobre somente uma ovelhinha que ele havia comprado. O pobre a criava e ela ia crescendo com ele e seus filhos, comia de sua vasilha e dormia em seu colo. Era como uma filha. Ora, chegou uma visita à casa do homem rico, e este não quis pegar nenhuma de suas ovelhas ou vacas para servir ao viajante. Então pegou a ovelha do homem pobre e a preparou para a sua visita”.
Perante a história do profeta, Davi ficou furioso contra aquele homem, e disse a Natã: “Pela vida de Javé, quem fez isso merece a morte. Porque não respeitou o outro, deverá pagar quatro vezes o valor da ovelha”. Então Natã disse a Davi: “Pois você é esse homem! Assassinastes Urias, para se casar com a mulher dele!” E sentencia Davi: “Pois bem! A espada nunca mais se afastará de sua família, porque você me desprezou e tomou a mulher de Urias, o heteu, para se casar com ela. Você agiu às escondidas, mas eu farei tudo isso diante de todo o Israel e em pleno dia”. O rei diz: “Pequei contra Javé”. Então Natã disse a Davi: “Javé perdoou o seu pecado. Você não morrerá.”

O Apóstolo
O segundo personagem é Pedro, um pescador que se tornou discípulo de Cristo. Tinha um temperamento explosivo, cortou orelhas, andou sobre o mar. Declarou que Jesus é o Messias, afirmou que seguiria o mestre onde ele fosse, porém negou a Jesus e diante do olhar do mestre chorou amargamente, pois reconheceu seu pecado. Pregou o sermão no dia de Pentecostes e três mil pessoas se converteram.
Porém no texto de Gálatas, Paulo entra em debate com ele, porque antes de chegarem algumas pessoas da parte de Tiago, Pedro comia com os pagãos, mas depois que chegaram, começou a evitar os pagãos e já não se misturava com eles, pois tinha medo dos circuncidados. Ao seu exemplo, os outros judeus também começaram a fingir com ele.
Mas foi esse mesmo Pedro que na hora de ser martirizado preferiu morrer de cabeça para baixo, pois não se considerava digno de morrer como seu Senhor.

A Pecadora e o não pecador
A terceira personagem foi uma mulher chamada de pecadora por alguns fariseus.
Certo fariseu convidou Jesus para uma refeição em casa. Jesus entrou em sua casa e pôs se à mesa. Apareceu certa mulher, conhecida na cidade como pecadora. Sabendo que Jesus estava ali, levou um frasco de perfume e colocando-se por trás do Mestre, chorando e com as lágrimas banhava-lhe os pés. Em seguida, os enxugava com os cabelos, cobria-os de beijos e os ungia com perfume
Entra em cena o quarto personagem, o não pecador (o fariseu), enquanto o episódio ocorria, o fariseu pensava: “se esse fosse mesmo um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois ela é pecadora”. Jesus então conhecendo-lhe os pensamentos, pergunta-lhe: “Quando um credor perdoa duas pessoas que lhe devem valores diferentes (sei lá R$ 50 e R$ 500), qual desses lhes será mais grato?”. E o fariseu responde acertadamente: “Aquele ao qual mais foi perdoado. E Jesus lhe disse: “muito bem”.
E o Mestre termina: “quando eu entrei aqui você não me saudou com um beijo, não banhou meus pés, porém ela lavou meus pés com lágrimas e não os para de beijar, por essa razão eu declaro a você, os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, porque ela demonstrou muito amor.”

O que os personagens têm a nos dizer
Tanto, o rei, como o apóstolo e a pecadora reconheciam seus pecados, suas fraquezas e confiavam na graça de Deus. Graça é um favor imerecido, um dom concedido por Deus ao seres humanos.
O rei Davi abusa do seu poder, adultera, assassina Urias e tenta de todos os modos encobrir seus pecados, mas a tomada de consciência se dá através da profeta Natã.
O apóstolo reconhece seus pecados e morre crucificado de cabeça para baixo, pois não se acha digno de morrer como seu Senhor.
A pecadora é grata através do ato de lavar os pés de Jesus e enxugá-los com os próprios cabelos.
Todos reconheceram-se como pecadores e confiaram na graça de Deus, pois somente ele pode dar sentido para a nossa vida.

O não pecador
O problema da última personagem era sua cegueira espiritual, porque não se considerava pecador, por isso, fica numa atitude de julgamento, e não é capaz de entender e experimentar o perdão e o amor. Era mais fácil dizer “É uma pecadora”, mas impossível reconhecer que era pecador também.
Jesus mostra que a justiça de Deus se manifesta como amor que perdoa os pecados e transforma as condições das pessoas. O amor é expressão e sinal do perdão recebido.

Nos reconhecemos pecadores?
E nós reconhecemos que somos pecadores? Confiamos na graça de Deus? Pecado é quando desviamos nosso olhar de misericórdia do outro (e este pode ser as pessoas, a natureza, os animais), somos orgulhosos (assim como o fariseu, não nos consideramos pecadores) e auto-suficientes (queremos depender somente de nós mesmos e não de Deus).
Estes dias estava colocando diante de Deus meu orgulho, a dificuldade que tenho de fazer sua vontade, dobrar meus joelhos diante de seu amor.
Você consegue entender como Deus te ama e te deseja?
Peça a Ele, ao Deus de todo o amor e misericórdia que lhe de o entendimento do seu amor e o reconhecimento dos pecados.

Termino com uma história muito bonita:

"A Maravilhosa Graça de Deus"
Alguns anos atrás, numa igreja na Inglaterra, o reverendo notou um ex-assaltante se ajoelhando para receber a ceia do Senhor ao lado de um juiz da Suprema Corte da Inglaterra. O juiz era o mesmo que, anos antes, havia condenado o assaltante a sete anos na prisão.
Após a celebração, enquanto o juiz e o reverendo caminhavam juntos, o juiz perguntou, “Você viu quem estava ajoelhado ao meu lado durante a ceia?”
“Sim”, respondeu o reverendo, “mas eu não sabia que você havia notado”.
Os dois homens caminharam em silêncio por alguns momentos. Daí o juiz disse, “Que milagre da graça!”
O reverendo concordou. “Sim, que milagre maravilhoso da graça”.
Daí o juiz perguntou, “Mas você se refere a quem?”
O reverendo respondeu “É claro, à conversão do assaltante.”
O juiz falou “Mas eu não estava pensando nele. Estava pensando em mim mesmo.”
“Como assim?” indagou o reverendo.
O juiz respondeu, “O assaltante sabia o quanto ele precisava de Cristo para salvá-lo dos seus pecados. Mas, olhe para mim. Eu fui ensinado desde a infância a ser um cavalheiro, a cumprir a minha palavra, fazer minhas orações, ir à igreja. Eu passei por Oxford, recebi meu diploma, fui advogado e eventualmente tornei-me juiz. reverendo, nada, a não ser a graça de Deus, podia ter me levado a admitir que eu era um pecador igual àquele assaltante. Levou muito mais graça para me perdoar por meu orgulho, minha confiança em mim mesmo, para me levar a reconhecer que não sou melhor aos olhos de Deus do que aquele assaltante que eu mandei à prisão.”
E que maravilha a graça é. Boas pessoas só não são perdoadas porque seu orgulho as impede de chegar ao Salvador.

Bibliografia
CEA – Centro de Estudos Anglicanos – Lecionário.
Homilias para El Leccionario Dominical – Ano C – Ministerios Hispanos – The Episcopal Church.
Ilustração: http://www.hermeneutica.com/ilustracoes/graca.html.

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