Reginaldo Marcelo
A Igreja Anglicana do Brasil é realmente inclusiva?
Instituto Anglicano de Estudos Teológicos – IAET
2008
Introdução
O interesse em escrever este
trabalho nasceu durante a aula ministrada pelo Rev. Triana. A discussão girava
em torno da discussão da Inclusividade da Comunhão Anglicana, em relação aos
homossexuais.
Refletindo sobre o assunto, uma
pergunta surgiu: “A Igreja Anglicana do Brasil é realmente inclusiva?”
Para tentar responder esse
questionamento, dividiremos esse trabalho em dois capítulos:
No primeiro, tentaremos trazer a
tona, o significado de Inclusividade e, para isso, dividiremos o capítulo da
seguinte maneira:
O significado de Inclusividade:
aqui, através do texto do rev. Aquino, procuraremos definir Inclusividade,
porém demonstrando como entendo o referido termo;
1.1. Olhando além das aparências:
abordaremos aqui a necessidade de enxergar além daquilo que vimos a primeira
vista;
1.2. Jesus enxergava além da
aparência: Destacaremos alguns textos bíblicos, em que Jesus enxerga além da
aparência das pessoas que entrou em contato;
1.3. Amor é essencial: aqui
trabalharemos a questão do amor, sem ele é impossível ser inclusivo;
1.4. Deus acolhe porque não
fazemos o mesmo: falaremos sobre o acolhimento de Deus, se Ele o faz, porque
devemos ser diferentes?;
No capítulo II, retomaremos a
questão: A Igreja Anglicana do Brasil é realmente inclusiva? Para isso
analisaremos as seguintes questões:
2.1. A Arquitetura dos templos
Anglicanos: abordaremos a seguinte questão: eles estão adaptados para incluir a
todos?;
2.2. As celebrações litúrgicas:
Questionaremos: as celebrações litúrgicas de nossas paróquias abrangem a
todos?: crianças, idosos, etc;
2.3. Preparação dos membros para
acolher o diferente: Discorremos sobre a preparação dos anglicanos brasileiros
para acolher o diferente.
Haverá dificuldades para escrever
este texto: Primeiro: a falta de referências bibliográficas para ser analisada
e segundo: não conheço todas as paróquias anglicanas do Brasil e da Diocese de São Paulo (DASP,
principalmente as que ficam no interior do Estado de São Paulo). Enquanto escrevia
visualizava, as paróquias que conheço da DASP
Capitulo
I
Significado
de Inclusividade
Rev. Jorge Aquino –
OSE define o termo Inclusividade da seguinte maneira:
Disposição
mental na qual você está, a priori, aberto para ouvir e se enriquecer com a
experiência e com a visão do seu dessemelhante. Neste aspecto, a inclusividade
é radicalmente o oposto da exclusividade. Na visão e na postura exclusivista,
só eu tenho a verdade, só eu conheço a verdade, quem pensa diferente de mim
está no erro, o que é o pior, quem pensa diferente de mim, pensa diferente de
Deus, porque Deus concorda comigo.[1]
Entendo que todos
eles tem sua contribuição e devem participar da Celebração Eucarística e do
trabalho nas paróquias.
1.1.
Olhando além das aparências
No dicionário Aurélio
não encontramos a palavra inclusividade, mas o vocábulo incluir aparece com os
seguintes significados: “Compreender,
abranger, conter em si. Estar compreendido” (Mini Aurélio - 2000). Segundo o dicionário, podemos intuir
que: incluir é abraçar (abranger), perceber (conter em si), ouvir
(compreender). Para conseguir tal proeza é necessário estar aberto ao outro
como seres humanos que são, enxergar além da aparência e ver o outro como uma
pessoa que nos ajudará de alguma forma a crescer e desenvolver o que há de
melhor em nós.
1.2.
Jesus enxergava além da aparência
Nesse sentido temos
que aprender com Jesus, pois ele conseguia enxergar além da aparência: Vejamos
alguns exemplos:
- Enxergou
em Pedro, André, Tiago e João mais que pescadores de peixes (Mt 4.18-22);
- Não
importou-se com a lei da impureza ao tocar e curar o leproso (Mt 8.1-4);
-
Olhou
os pecadores como pessoas que mereciam sua companhia nas refeições (Mt
9.10-13);
-
Vocacionou
Levi, pois viu mais que um corrupto cobrador de impostos, funcionário do
Império Romano; (Mc 10.13-16)
-
Valorizou
as crianças e ainda disse: Se os discípulos não tornarem-se como elas não
alcançarão o Reino dos Céus;
- Viu
a adúltera não como simplesmente uma pecadora, mas alguém que precisava ser
amada para mudar sua atual situação.
Jesus enxergava as
pessoas, além daquilo que aparentavam e isso gerava mudanças internas e
externas nelas. A Escritura chama isso de
cura.
1.3.
Amor é essencial
O
amor é essencial para a igreja ser inclusiva, pois sem ele, não pode ver as
pessoas, é amor ao outro, como afirma Dussel em seu livro Ética Comunitária “o amor ao outro como outro é encanto,
beleza, bondade, santidade (…), dom de si mesmo, entrega, opção sem retorno”[2]
É
impossível entender Inclusividade, se a busca pelo amor, não fizer parte da
vida daquele que deseja acolher, aprender e respeitar o outro.
Deve-se
permitir que o outro entre no coração, se intenção for essa, não somente
sofre-se menos, mas aumenta-se a chance de acolher em amor e carinho. Além
disso se o cristão estiver motivado pela prática do amor, torna-se fácil
perguntar: “- Como posso aprender
contigo”. Quando se é capaz de abordar situações de conflito dessa maneira,
haverá transformação da visão e aprender-se-á com o outro.
1.4.
Se Deus acolhe porque não fazemos o mesmo
É fundamental ter presente na mente: Se é Deus quem
acolhe, então o seguidor de Cristo, não tem o direito de rejeitar as pessoas,
seja ela quem for. Nesse sentido todos tem seu espaço na igreja e devem ser
acolhidos por ela, seja sua condição: homossexuais, idosos, crianças,
cadeirantes, moradores de rua, deficientes visuais e auditivos etc. deve-se
lembrar que a Igreja é Cristo vivendo em comunidade e portanto deve acolher a
todos. Bonhoeffer fala isso da seguinte maneira: “o corpo do Senhor glorificado
é corpo visível na forma da Igreja”[3]
Capítulo
II
A Igreja
Episcopal Anglicana é realmente inclusiva
A Igreja Episcopal é realmente Inclusiva? Para tentar responder
a essa pergunta, é imprescindível observar a arquitetura dos templos
anglicanos, as celebrações e finalmente na preparação dos membros das paróquias
para acolher, entender e respeitar o outro.
2.1.
A Arquitetura templos anglicanos
Para que uma igreja seja realmente inclusiva é necessário
uma preocupação com a arquitetura dos templos, pois eles devem ter acesso para
as pessoas com dificuldades de locomoção, sejam elas cadeirantes, idosos,
deficientes visuais, etc.
Alguns dos templos anglicanos da DASP, contêm escadas,
que dificultam a locomoção dessas pessoas, os degraus estão presentes no acesso
ao espaço cúltico ou ainda na passagem até o salão paroquial, o que prejudica
as pessoas que não podem ou têm dificuldades para andar.
Para ser uma igreja inclusiva é necessário rever essa
situação, para que todos, sem exceção, tenham a oportunidade de participar da
vida eclesiástica.
2.2.
As Celebrações Litúrgicas
A celebração litúrgica é o momento comunitário de
adoração e louvor a Deus, ouvir Sua Palavra, receber o corpo e sangue de Cristo
na Santa Eucaristia, todos devem ter a oportunidade de participar delas.
O
que tenho visto nas comunidades anglicanas é pouco ou nenhum espaço para as
crianças, às vezes nos contentamos em colocá-las somente como acólitas, mas
nossas celebrações e sermões são direcionadas para adultos e elas não tem
espaço para expressar a sua espiritualidade, como batizadas que são. Na
Paróquia do Cristo Salvador, vejo crianças ajoelharem e orarem após receber a
Santa Eucaristia, o que demonstra que elas devem ser respeitadas e terem também
espaço na celebração cúltica para desenvolverem sua espiritualidade.
Outro elemento que tenho observado é quanto ao tamanho da
letra de nosso Livro de Oração Comum (LOC), elas são pequenas, o que dificulta
a leitura pelos queridos idosos e idosas. Para que a igreja torne-se inclusiva
é necessário pensar nessa questão, que parece sem importância, mas para aquele
ou aquela que “está na melhor idade” é fundamental para sentir-se parte da
comunidade de fé.
2.3.
Preparação dos membros para acolher o diferente
É importante pensar em algo: será que os anglicanos
brasileiros, estão realmente preparados para acolher o outro “diferente”?
Para
uma Igreja inclusiva faz se necessário a preparação dos paroquianos para
respeitar e acolher aquele que é diferente a si. Esta preparação pode conter os
mecanismos legais quanto a inclusão, estudo da Santa Escritura e finalmente os
documentos da Igreja Episcopal Anglicana que falem sobre o assunto.
Conclusão
A pergunta ainda está na minha cabeça, será que a Igreja
Episcopal Anglicana do Brasil é realmente
inclusiva? Creio que ainda temos um caminho, espero que não muito longo, a
percorrer até que a igreja torne-se totalmente inclusiva.
Creio
que ações são necessárias para chegar ao final desse caminho, vejamos alguns
deles:
1.
Quanto a arquitetura dos templos é indispensável a adaptação com a construção
de rampas, colocação de antiderrapantes para evitar quedas, a Paróquia da Santa
Cruz tem alguns desses elementos, o que faz dela uma igreja mais democrática.
2.
As celebrações cúlticas poderiam dar oportunidade para as crianças, pelo
menos uma vez por mês, para dirigirem os
cultos ou ainda ter um espaço para expressar
a sua fé em linguagem apropriada. A Catedral Anglicana de São Paulo tem esse
momento “infantil”, elas são
“separadas” dos adultos durante a celebração e é realizado o culto em sua
linguagem, da seguinte maneira: há um tema mensal apresentado de forma
criativa, dramatizações, teatro de bonecos, etc, e depois recebem a Santa
Eucaristia
Quanto
ao tamanho da letra do LOC, a Paróquia da Santa Cruz encontrou uma maneira
interessante de resolver esse problema: digitaram e imprimiram com letras
grandes, o que facilita a leitura pelos idosos e idosas.
Os
estudos para preparação da igreja podem ser realizados na Escola Dominical ou
em qualquer outro momento apropriado,
conforme o bom entendimento da comunidade.
Acredito
que não exista uma solução solidificada para resolver essas dificuldades, mas é
possível com entendimento, respeito, bom senso e oração, caminhar, como cristãos anglicanos, encontrando
formas para acolher com amor todas os segmentos: homossexuais, deficientes,
idosos, crianças, etc.
referências
bibliográficas
1. AQUINO, J. Os desafios da Inclusividade, Site da
Paróquia Anglicana de São João.p.1
2. Bíblia
Sagrada, Edição Pastoral, Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus,
1990
3. BONHOEFFER, D. Discipulado, Editora Sinodal, 1989
4. DUSSEL, E. Ética Comunitária, Série III, A
libertação na História, coleção Teologia e Libertação, Vozes, 1994.
5. ALVES, P.S., Estudo 1: Inclusividade: in
Rilolima.googlepages.com
6. 4. Samoockah.blogspot.com/2007 – A Terceira Porta:
Inclusividade / Kshanti
[1]
AQUINO, J. Os desafios da Inclusividade, Site da Paróquia Anglicana de São
João.p.1
[3]
BONHOEFFER, D. Discipulado, Editora Sinodal, 1989
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